DIR-Fundamentals, Porto, Ago-2005

O MEU DIR-F

Expectativas

Esgotadas as nossas possibilidades de formação em mergulho, recreativo e técnico, pelas escolas/agências que costumávamos frequentar, decidimos que o próximo passo seria um curso GUE. Todos queríamos fazer mergulhos mais difíceis. Acresce que o equipamento que necessitávamos adquirir – backplates metálicos, asas e reguladores XPTO, etc – reforçou a nossa expectativa de obtermos uma certificação ainda mais técnica do que as que possuíamos.

Não podíamos estar mais enganados.

 

Preparação para o curso

Umas pesquisas na internet, umas conversas com amigos que já tinham esta experiência e, acima de tudo, uns mergulhos com eles, fizeram-nos ver que afinal mesmo aquilo que tínhamos como competências elementares (e.g. flutuabilidade) não eram ainda perfeitamente dominadas. As prácticas de mergulho que tínhamos apenas escondiam essas lacunas.

Decidimos então fazer um programa de treinos, de cerca de 25 mergulhos, para treinar o que nos parecia mais difícil de conseguir: manipular torneiras, usar o spool, gerir o long hose, habituarmo-nos à nova sinalética.

Provavelmente, nada do que era importante! Por fim, o elemento de dramatismo: depois de todo o investimento feito - em equipamentos, mergulhos de treino e em trazer um instructor inglês aqui ao burgo - nestes cursos não se termina necessariamente com uma certificação. De facto cerca de 50% dos nativos que o fizeram não obtiveram uma certificação à primeira.

 

Curso

Sexta-feira, 16H30, aeroporto de Pedras Rubras: conhecer o instructor – Andy Kerslake. Não tem um ar muito técnico. Uns 50 anos e um aspecto de um perfeito mortal, nada condizente com o seu curriculum.

Viagem até ao hotel, instalação e início imediato das aulas (19H30): papeis, pagamentos (para quem faltasse), apresentações, objectivos e expectativas individuais.

Terminada a conversa ... provas físicas – eliminatórias - em piscina (21H30): apneia dinâmica (18m) e percurso de nado à superfície (350m) com tempo máximo. Nada de muito difícil mas ajuda a ir instalando algum stress e fadiga.

Terminado isto são 24H00. Vamos comer algo e enfiar-nos na cama.

 

Sábado, 07H00 (pontualidade britânica): primeira aula teórica seguida da descrição do plano e objectivos a cumprir nos mergulhos do curso.

08H00: pequeno almoço (pequeno é a palavra certa). Logo seguido de uma sessão teórico-práctica sobre o equipamento de cada aluno – eliminar excessos, efectuar alterações, ajustar os arneses, recomendar certas alterações de fundo. Ainda práctica a seco dos exercícios de segurança (S-drills).

Rapidamente rumamos ao centro de mergulho, equipamos, embarcamos e saímos para dois mergulhos, que serão integralmente filmados para posterior revisão.

Monta-se um percurso com linha, a 6m de profundidade e lá vamos nós. Para grande surpresa nossa, o instructor não se vê durante os mergulhos. As equipas deveriam ter prestado atenção aos objectivos discutidos 3 horas antes e saber o que fazer sozinhas. O instructor quase só aparece, de modo surpreendente, para provocar falhas – membros da equipa que se atrasam, desaparecem ou que ficam subitamente sem gás (simulado, claro, já que ele nunca toca em nós ou no nosso equipamento). Isto foi muito diferente dos mergulhos de instrucção a que estávamos habituados.

Saídos da água, ruma-se ao porto, desembarca-se, desequipa-se, arruma-se tudo, enchem-se garrafas e come-se algo para disfarçar a fome. Era já tarde e havia muito para fazer.

De regresso ao hotel temos o debriefing e visionamos o vídeo do mergulho. A terrível verdade é que não temos as competências que sempre julgávamos ter.

Mas não há tempo a perder. Mais uma aula teórica e outra teórico-práctica sobre técnicas de propulsão, nomeadamente o backward kick.

Nova saída para comer algo (à laia de jantar) e regresso para nova aula teórica até às 23H30 ou 24H00.

Agora resta cair na cama.

 

Domingo, 07H00: Mais uma aula teórica até às 08H00. Pequeno almoço e rumo ao porto para os últimos dois mergulhos, novamente aos 6m de profundidade. Estes tinham já uma pletora de exercícios, vários dos quais para além das nossas capacidades. Como (pequena) consolação o backward kick que tinha sido aprendido na véspera saiu bem. No regresso o ambiente a bordo era de funeral. Todos sabíamos que tínhamos reprovado.

Desembarca-se, desequipa-se, arruma-se tudo e almoçam-se umas bifanas na esplanada. O ritmo diminuiu.

Regresso ao hotel para visionar o vídeo e ter a última aula teórica (planeamento e deco) enquanto se resiste à fadiga e ao sono o melhor possível.

Depois seguem-se as entrevistas. Um a um, em privado, reunimo-nos com o instructor e o auxiliar, para a auto-avaliação, os comentários finais de desempenho e a listagem dos pontos a melhorar.

No arrumar das bagagens decidimos partilhar entre nós os resultados (confidenciais) da nossa avaliação. Afinal não foi tão mau como isso: nenhum reprovado e cerca de metade de aprovações. Os restantes terão que prestar provas adicionais, mas apenas dos pontos (menores) onde não terão cumprido os mínimos.

E todos temos agora muito para treinar.

 

Conclusões

A principal é a de que este curso foi, para nós, uma lição de humildade. Afinal nós tínhamos reais dificuldades com os aspectos básicos do mergulho – atenção aos colegas, resposta a emergências, flutuabilidade, planeamento e gestão de gases, etc.

Depois, a noção de mergulho técnico dilui-se. O que é? Mede-se pelo número de garrafas? Aqui só isso muda!

Por fim, que se trata de um verdadeiro processo de aprendizagem nos limites individuais, onde a certificação final é a parte menos relevante do processo.

O conjunto é tão diferente que, tal como o sexo, quem não o fez não sabe do que está a falar.

Agora tenho mais um canudo (eles emitem mesmo um cartão!?! - mas tem um prazo de validade : 3 aos !!) mas também uma nova regra de ouro: não me coloco em situações onde não esteja em condições de participar no salvamento da minha equipa.

João M. Carvalho




































 

Mapa | Creditos | Contactos | Informação Legal | Novidades | ©2006-2011 ENTRADA