Tech-1, Beirut, Out-2004

Um Tech-1 durante o Ramadão

O AG abre a aula teórica com a pergunta “What is the most important and difficult thing in diving ?”. Depois de alguma discussão sobre a importância do equipamento, modelos de descompressão, preparação física e mental, postura do mergulhador na agua, técnicas etc., chega-nos a resposta: “Communication and Team Work !”.

Estava eu e o meu parceiro Nikos Vardakas (da Grécia) sentado numa sala no centro de mergulho Calypso, em Beirute, a assistir ao primeiro de 5 dias do curso Technical Diver Level 1 (Tech-1) da GUE. Andrew Georgitsis (AG), o nosso instrutor, tem a reputação de ser dos mais exigentes e duros dos 30 e poucos instrutores da GUE a nível mundial. Alias tanto eu como o Nikos viajamos a Beirute especificamente para assistir ao curso com o AG. Neste primeiro dia não conseguíamos imaginar todo o significado e alcance que as palavras “Communication and Team Work” teriam durante a nossa estadia ...

Eu e o Nikos, já nos conhecíamos desde o curso de DIR Fundamentals que fizemos em Portland (GB), com o Andy Kerslake e Jarrod Jablonski em Setembro de 2003, e como planeamos a nossa viagem para chegar a Beirute 3 dias antes da chegada do AG, para pudermos justamente praticar em equipa antes do curso, foi com alguma confiança e muito entusiasmo que abordamos os 6 mergulhos que estavam planeados para o segundo dia. O almoço de sandes e pizza que o Omar, responsável do Calypso, organizou (um feito nada fácil pois estávamos na época do Ramadão !) no jardim frente ao centro foi tomado em silêncio e em estado de choque à medida que o AG ia comentando o nosso desempenho, ou falta dele !, durante o debriefing do vídeo dos primeiros 3 mergulhos da manha ! Foi nesta altura que as palavras “Communication and Team Work” começaram a tomar o seu verdadeiro significado.

O Faisal, que tinha completado o Tech-2 também com o AG em Maio, e vídeo grafo do nosso curso, prestava nos concelhos e palavras de encorajamento. Pois segundo ele é normal os estudantes perderem a linha do carreto no primeiro mergulho, deixarem os seus parceiros “morrer” por falta de ar, e inclusive andarem à “batatada” debaixo de água porque não se conseguem por de acordo sobre a decisão a tomar. “Communication and Team work” !!!

Os Mergulhos

Os mergulhos de praticas são realizados a pouca profundidade (9-12m), como convém para realçar o domínio (ou falta dele) da flutuabilidade, nas águas quentes (27ºC) e geralmente limpas nesta zona do Mediterrâneo. Um dos sítios muito visitados e a chamada parede AUB (American University in Beirut) que se situa mesmo em frente (não mais de 300m) do campus desta faculdade na zona ocidental de Beirute. Esta parede desce até aos 300m e é um lugar habitualmente utilizado pelos “exploradores” de aguas profundas !

O modelo de ensino da GUE e baseado na aplicação de simulações de incidentes durante o mergulho, onde as simulações são levadas a sério e até ao fim do mergulho ou até o instrutor ou o aluno chamarem um “cut” (como nos cinemas). Os mergulhos e os “drills” vão-se tornando cada vez mais “interessantes” à medida que o AG vai introduzindo novos conceitos; falhas de válvulas, visibilidade zero, gás switches, trimix, descompressão, deco on the fly, mergulho com garrafas de stage, etc.

E claro que os incidentes, e são múltiplos por mergulho, acabam por acontecer nas alturas menos “oportunas”; falha de válvulas mesmo antes da subida obrigando a equipa a replanificar a descompressão por exceder os tempos de fundo previstos, ou a meio de um “gas switch” a meia agua, ou em situações de visibilidade zero, onde depois do mergulho temos de ter a resposta ás perguntas de rotina: Em que minuto e que ficaste sem mascara ? quantos bares tinhas nessa altura ? e o teu buddy ? a quantos metros estavas da “up-line” ? tinham 10 minutos de deco e fizeram quase 15, porquê ?

Awareness

E assim repetidamente durante todos os mergulhos. À medida que o curso foi avançando, íamos ganhando confiança e ânimo, ao vermos uma (mesmo que gradual !) transformação de mergulhadores passivos, cegos e desatentos ao nosso meio (buddy, equipamento, meio ambiente etc.) que éramos, para mergulhadores pensantes. Uso a palavra “pensante”, de forma consciente, pois tenho a nítida sensação de que antes mergulhava embrulhado num coma de falsa tranquilidade e passividade mental, quase “solo” para todos os efeitos.

Dá um novo significado à “DIR Rule #1”, ao contrario do que se possa pensar, esta maneira de encarar o mergulho torna-o ainda mais entusiasmante e divertido !!! Passados os primeiros 4 dias do curso, obtivemos luz verde para continuar com os últimos mergulhos do curso, os chamados mergulhos de experiência, onde teríamos oportunidade de realizar mergulhos sem os cenários de falhas que até então tinham marcado os nossos dias.

Uma Expediçao no Líbano

Pela feliz coincidência de que o curso Tech-2 programado para a semana seguinte ao nosso Tech-1 não estar totalmente preenchido em termos de vagas, e de se ter descoberto recentemente o naufrágio HMS Victória em aguas Libaneses, decidiu o AG montar uma semana de expedições a vários naufrágios da costa Libanesa em preparação para 2 dias de exploração ao HMS Victória.

Tive assim a sorte de puder participar nos primeiros 3 dias desta expedição e de puder acompanhar os preparativos logísticos e de planeamento de uma expedição em larga escala. O site que serviu de plataforma de divulgação para a expedição foi montado (desenhado, construído e escrito) numa só noite, e depois de cada dia de mergulho a noite era passada no Starbucks (onde havia uma promoção de ligação Wifi gratuita !) a escrever os relatórios e a editar vídeo e fotos. Foi sem duvida uma excelente experiência para um recém-formado Tech-1 da GUE.

 
































 

Mapa | Creditos | Contactos | Informação Legal | Novidades | ©2006-2011 ENTRADA